segunda-feira, agosto 09, 2010

A solidão da morte.

Eu poucas vezes falo aqui dos meus pais. Descobri isso hoje. Nem dos meus pais, nem dos meus irmãos, sobrinhas, ou amigos falo pouco daqueles que são meus e vivem no Brasil. Talvez por eles não me causarem estranhamentos, ou conflitos existenciais ou algum tipo de aversão. Quer dizer não sei. Por que parentes sempre fazem a gente sentir um pouco de raiva na vida ou felicidade. Quem não tem ou teve um parente que tenha provocado sentimentos estranhos por favor levante a mão! Ahhh... Sim! Eu lhes desejo parabéns, pela tolerância e paciência. Por que todo mundo tem em algum momento uma tia chata, um tio inconveniente que bebe demais ou conta piadas ruis, um irmão babaca. Uma irmã patricinha...

Bem mas o caso hoje não é falar da chatice dos parentes. E sim da relação da minha mãe com suas amigas. Minha mãe é um pouco mais velha que a minha famosa sogra, completa este ano 76 anos. Diabética, hipertensa, tem glaucoma e enxerga pouco. Mas uma grande disposição para vida, mas uma disposição atípica. Por que na verdade o que ela tem é um imenso medo da morte. Enquanto eu(a mocinha espiritualizada) acredito na vida após a morte, em reencarnação etc. Minha mãe tem uma pré disposição a todo o contrário. Nao tem religião. Acredita em todas, mas não frequenta nenhuma, e jamais se propõe a discutir qualquer dogma católico, ou pensar na fé raciocinada que sua filha espírita sempre a adverte. A filha, sou eu mesma, que acredito que a fé não pode ser cega. Mas minha mãezinha que sempre foi chorona e medrosa. Por que sempre diz: "a fila da morte é injusta nunca sabemos em que lugar estamos". Se abateu com a morte de uma amiga querida. Aliás que nós não esperávamos que fosse desencarnar antes da mamãe. Pois embora tivesse um câncer de mama, ninguém sabia. E ela esteve internada por uns 2 meses. E no fim não reconhecia ninguém. Mas infelizmente minha mãe não soube a tempo. E antes de saber da notícia caiu numa tristeza tão grande que chegou a me dar medo do lado de cá. Acho que esse receifoi por estar fora do Rio de Janeiro a mais de 30 anos. Minha mãe teve uma vida meio parecida com a minha. Trabalhou casou com o namorado da adolescencia após quinze anos de idas e vindas e dois filhos dele, moraram seis anos separados ela no Rio meu pai em Brasília e depois em Guaratinguetá. E após esse tempo reuniram a família toda. Ela sua filha e seus outros dois enteados e foram se todos para Brasília. Uma terra distante e cheia de poeira na qual duas vezes por ano meu avô nos visitava na companhia de uma neta ou uma filha. Todas as suas amigas ficaram no rio. Algumas foram uma vez ou outra visitá-la mas o contato mesmo era para as férias de verão quando ela ia com as crianças num vôo de FAB para o Rio e lá se ia o verão numa sensação desconfortável onde ela reconhecia sua cidade mas já não era sua casa. E a cidade onde sua casa estava não era a sua. Eu acho que conheço esse sentimento. Mas toda vez que minha mãe encontrava suas amigas era muito intenso. Como todas as vezes que encontro minhas amigas seja no Brasil ou aqui na Internet. Minha mãe repartia seus problemas com elas, que muitas vezes acham que por minha mãe morar em Brasília onde"vertia leite e ouro", eram pequenos, muitas vezes brigavam, como é comum aos amigos, muitas vezes riam juntas, muitas vezes choravam mas sempre amigas. Mulhres simples trabalhadoras e lutadoras.

Mas semana passada uma delas partiu. E minha mãe mesmo sem saber da morte se ressentiu. E ficou em uma tristeza que me deixou com esse medo. Pois minha mãe tem uma tendência a melancolia. Mas enfim ela superou. O problema é que agora ela não sabe em que lugar na fila está. E ao contrário do meu pai que virou moleque por que já atingiu a expectativa de vida do brasileiro com certa folga. E tirou do bolso um caderninho de coisas que ainda não fez na vida... Que ao meu ver parecem fáceis e nada perigosas. Minha mãe entretanto se recolhe no medo da morte mas o maior medo que eu acho que tem a cometido é a tristeza da solidão. Eu ainda não tenho esse sentimento por que não perdi uma grande amiga. Mas agora eu entendo por que os idosos se entristecem tanto quando perdem amigos.

Eu hoje percebo que o medo de envelhecer não é pelo medo da morte que pode ser iminente. O medo não é da morte e sim de permanecer sozinhos, sem amigos. Eu espero que ela não passe por isso. Por que ela passou a vida meio solitária, mas muito fiel às amigas. Ao ponto desta adoecer dizer a ela, e dizer para ela não contar a ninguém. E minha mãe obedeceu, e nem a mim ela contou. O que me fez me sentir um pouco traída. Por que embora a diferença de idade somos meio Gilmore Girls, as meninas Moura.

Infelizmente nessa vida minha mãe não viveu e nem viverá a modernidade da internet. E suas amigas também não. Vai ser difícil ela achar amigos novos ou apenas pessoas da idade dela para conversar. Eu percebo que na velhice a perda dos amigos se parece a um rio que seca, erodido, e estéril e com crateras de vázios irreparáveis.

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